50º aniversário da Comissão de Melhoramentos de Meãs

Há 50 anos, em 28 de Março de 1958, um grupo constituído por meansenses e amigos ligados a esta terra por laços familiares ou apenas por amizade, fundou a Comissão de Melhoramentos de Meãs. Às necessidades dos sacrificados habitantes desta terra, correspondia a iniciativa e a dinâmica de um grupo em Lisboa.

Em 1958, pelo contexto político, social e económico do nosso país, estava condenada ao abandono e desprezada uma vasta parte do nosso território nacional. A miséria, o isolamento, a ruralidade medieval em que Portugal estava mergulhado, (e ainda esteve muitos anos) eram muito mais duros no interior e muito mais ainda neste concelho da Pampilhosa da Serra. Como todas as regiões subdesenvolvidas e pobres, desta região apenas saía mão-de-obra, energia e matérias-primas. Energia da central hidroeléctrica da Santa Luzia (obra construída à custa do sacrifício e da opressão de tantos que viviam e trabalhavam no vale do rio Unhais e do alagamento e supressão de uma aldeia - o Vidual de Baixo). Saía volfrâmio e outros minérios da Panasqueira, madeiras, resina e pessoas. Não havia qualquer estrada, consumia-se água inquinada da fonte do Tojal, as epidemias de febre tifóide e outras doenças infecto-contagiosas eram frequentes. Meãs parecia uma aldeia com as condições sócio-económicas e sanitárias do Terceiro Mundo.

Começava-se a falar da França, do Canadá e dos Estados Unidos. Alguns já tinham saído para Angola ou Moçambique. O Brasil nesse tempo já não atraía ninguém. A melhor hipótese de melhorar a vida, conseguir um emprego razoável, na indústria hoteleira, na estiva ou nas obras consistia em rumar até à capital. Muita gente teve que sair durante toda a década de sessenta, setenta, oitenta, noventa e (infelizmente!) continua a ver-se obrigada a emigrar. Hoje há meansenses e descendentes seus em Lisboa, Coimbra e noutras cidades do país, na França, na Suíça, no Canadá, na Bélgica, na Inglaterra, e sei lá em quantos outros cantos do mundo.

Os meansenses marcaram prioridades, deitaram mãos à obra e quase sem ajudas do poder autárquico de então (nem respondiam aos ofícios da C. M. Meãs!) fizeram uma estrada que os ligou ao mundo e trouxeram para a povoação a água da Silva. Passaram a morrer menos crianças de gastro-enterite e a febre tifóide desapareceu. Estas foram as primeiras obras. Muitas outras foram realizadas nos tempos subsequentes.

Temos que homenagear esses meansenses e amigos de Meãs, os vivos e os que já partiram, dando um sentido histórico a essa homenagem. Lembrando esse passado, damos um sentido às tarefas que temos pela frente. A nossa terra tem ainda inúmeras carências.

Os tempos são outros, se o poder autárquico é hoje democrático e eleito pelos cidadãos, se o poder central diz que tem mais preocupações com as populações isoladas do interior (só diz!) o que efectivamente vemos é o abandono, o encerramento de escolas e centros de saúde, faltam os investimentos em sectores produtivos, não há empregos e continua-se a exportar gente, volfrâmio da Panasqueira, energia das centrais hidroeléctricas e eólicas e já não há madeira nem resina, porque o abandono trouxe os pavorosos incêndios que enegreceram todo o concelho.

Neste contexto, que futuro para as gentes das Meãs?

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