BREVE INTERPRETAÇÃO HISTÓRICO-GEOGRÁFICA DAS MEÃS

Meãs situa-se na parte norte do concelho da Pampilhosa da Serra, nas faldas do Picoto de Cebola, o pico mais alto da serra do Açor, com 1418 metros de altitude. A aldeia situa-se na cota dos 750 metros. A zona é muito montanhosa, mas nos vales da ribeira (ou rio Unhais) que aqui nasce, e seus ribeiros afluentes, há terra arável, que sendo embora pouca, tem alguma fertilidade e propiciou a agricultura e a fixação da população.

A água é abundante, há muitas nascentes e a ribeira nunca vai seca. Se há recurso em que as Meãs, ainda hoje é rica, é em água.

Por outro lado, os grandes bosques-pomares de castanheiros, (os soutos) carinhosamente tratados pelas gentes de tempos recuados, que os adubavam e limpavam, davam abundante fruto e as fomes que em séculos passados assolavam o país, provavelmente não se fariam sentir aqui.
Outro recurso importante eram as extensas zonas de pastagens de montanha que permitiam criar muito gado, especialmente o caprino. Todos os anos os pastores, com o auxílio do fogo, renovavam as pastagens, a erva crescia tenra, no meio dos rebentos da carqueja, do sargaço e da urze. Nas encostas mais férteis cultivava-se também o centeio.
Estes recursos, embora não sendo muito abundantes, permitiram, talvez desde os tempos da primeira dinastia, (séculos XII a XIV) atrair gente e povoar esta serra.

Pertence à freguesia de Unhais-o-Velho e sobre as origens, quer das Meãs, quer da sede de freguesia, permanecem muitos factos e documentos por desvendar. É muito provável que a criação da freguesia, esteja ligada ao concelho da Covilhã, dada a lenda do “velho de Unhais”. Esta zona seria integrada neste concelho, pois talvez a gente que a povoou daí fosse originária. As semelhanças linguísticas com a Cova da Beira, e com largas zonas da Beira Baixa, atestam-no. A pronúncia da língua portuguesa também afasta a população destas bandas da serra, da do outro lado, do concelho de Fajão, que é muito mais parecida com a de Coimbra.

Nesses tempos do início de Portugal, o concelho da Covilhã ia, ao princípio, desde a serra da Estrela até ao Tejo, abrangia até a Pampilhosa da Serra. Mais tarde, foi sendo amputado: Castelo Branco e a Idanha foram doados aos Templários e no século XIII, por foral de D. Dinis, também a Pampilhosa se separou. Foi também no século XIII que foi criado o concelho de Fajão, mas nem as Meãs, nem Unhais estavam integrados em qualquer deles. Documentos históricos escritos sobre as origens das Meãs e Unhais-o-Velho, não foram descobertos, até hoje. Há uma ou outra referência, mas muito curtas e dispersas: A mais antiga é do século XII onde Unhais é referido em documentos que delimitam doações, tal como Ceiroco e Fajão. O mais antigo mapa de Portugal, de 1561, já assinala Unhais, Dornelas, Cebola, Carregal, Casegas, Barroca, mas as Meãs ainda não. Unhais já seria freguesia nessa data? O que é certo é que até 1882 a freguesia pertenceu à diocese da Guarda e ao concelho de Fajão até 1855, data em que este concelho foi extinto e integrado no da Pampilhosa da Serra. O padroeiro, ou orago, da Igreja matriz é S. Mateus e a fundação de uma segunda capela na freguesia, nas Meãs, só poderia ser encomendada ao segundo evangelista, S. Marcos.

Certo é então, as Meãs ser a segunda aldeia mais antiga da freguesia, logo a seguir à sede. A freguesia de Unhais-o-Velho na sua expansão chegou às Meãs e é provável que alguns dos primeiros moradores, fossem originários da sede de freguesia. As condições de vida nessa segunda povoação seriam boas, já que a população ultrapassou em número a da sede, tornando-se em 1960, a terceira maior do concelho.

Casimiro Santos

Comentários

Anónimo disse…
Bela ideia Casimiro, estás de parabéns, é sempre bom não deixar cair no esquecimento o interior que por vezes é tão esquecido.
Continua este trabalho.

Isabel Tomé

Mensagens populares