O que define o meansense?

O natural das Meãs, seja homem ou mulher, tem à partida, como condicionante, o facto de ter nascido numa região montanhosa e pobre, tal como os restantes naturais do concelho da Pampilhosa da Serra.
A
montanha, o clima rigoroso e de extremos e o solo pobre, impõem uma vida dura e áspera, à qual, no passado, era muito difícil fugir. Muitos foram os que há 60 anos para cá conseguiram sair da aldeia e construir uma vida melhor em Lisboa, noutra cidade ou no estrangeiro. No entanto, nunca mais esqueceram a sua terra de origem. Este é um dos traços mais característicos do meansense: não esquece o canto onde nasceu. Regressa algumas vezes por ano, ou de ano a ano, para matar saudades, rever os amigos e respirar o ar da serra, olhar os cabeços à volta e recordar o tempo em que guardou as cabras, roçou uns molhos de mato e saltava por cima das carquejas com uma agilidade semelhante à dos cabritos. Mesmo os meansenses da geração mais recente tiveram estas vivências na infância e adolescência e o apelo das raízes faz-se sentir fortemente. Para os que ficaram nas Meãs foi o isolamento, o comunitarismo e a solidariedade.
A partir de finais dos anos 50 e início dos anos 60, o isolamento foi sendo quebrado; construíram-se, com sacrifício da população, as primeiras ligações rodoviárias ao exterior, pelo lado da Panasqueira e com ligação à Portela de Unhais pela serra das Roçadas (Chiqueiro), a estrada para o Porto da Balsa foi feita pelos Serviços Florestais e a ligação à sede de freguesia só nos anos 70. Todas eram estradas sem alcatrão ou pedra, verdadeiras "picadas".
O modo de vida tinha de ser quase comunitário, sem isso seria impossível a qualquer família sobreviver; comunitarismo nos trabalhos agrícolas, na distribuição e repartição da água de rega, na utilização dos moinhos, dos fornos, dos lagares, nas debulhas e desfolhadas do milho, nas malhas do centeio, no pastoreio do gado. Esse modo de vida gerava a solidariedade pois a ajuda mútua era indispensável. Mas também este modo de vida foi desaparecendo aos poucos. Resta ainda a solidariedade e, embora o meansense já não viva dependente da pouca e “fraca” terra de que dispõe. Os que vivem nas Meãs mantêm alguns desses costumes ancestrais, cultivando umas leiras e criando umas cabritas. A água das regas é hoje mais abundante, porque os regadios
foram arranjados com a comparticipação do Ministério da Agricultura e da autarquia. Há ainda dois moinhos que funcionam, moendo o milho colhido nos poucos terrenos ainda cultivados.
Muitos meansenses ficaram na aldeia porque eram mineiros. As Meãs foi uma terra populosa até aos anos 80. Era a terceira aldeia do concelho da Pampilhosa, em população, porque as Minas davam emprego logo aqui ao lado. A emigração só começou em força nos anos 60, principalmente para França, porque a Beralt Tin entrou numa das suas frequentes crises nesses anos. Mas a vida de mineiro é arriscada e perigosa. A doença profissional, a silicose ou “mal da mina”, e o acidente de trabalho espreitavam sempre. Alguns pagaram com a vida essa ousadia de ganhar o pão enterrados vivos, morrendo na flor da idade com os pulmões desfeitos, ou esmagados na mina. As Meãs era uma terra de viúvas.
Talvez pela dureza da vida, o meansense tornou-se, contraditoriamente, religioso e ateu, conservador e revolucionário, amante do convívio e de uns copos, brincalhão e, por vezes, gabarola,
poeta e fadista, tem como ponto de honra nunca dar parte de fraco, nunca “cair para trás” mostra um sorriso na adversidade, brinca com a desgraça e faz das tripas coração. É lutador, traça as suas metas e, muitas vezes, vence na vida.

Casimiro Santos

Comentários

Anónimo disse…
Um texto com uma qualidade destas não poderá ficar despido de um comentário elogioso à bela descrição do que é um Meansense :)

Os meus parabéns :)
Anónimo disse…
Eu António Viriato, "Meansense de gema", gostei muito do que li nestas linhas da vida.

Nos anos 70 e 80, a única fonte de emprego nesta nossa zona era a mina e a construção civil. O que tornava a vida bastante árdua, tal como está descrito no texto.

Vizinho, Eu e a Lena gostamos muito de ler este texto, que nos fez recordar, os nossos tempos de alegre mas difícil mocidade.

Abraço e (re)vemo-nos pelas ruas da Nossa Aldeia.

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