ARTE RUPESTRE NO CONCELHO DA PAMPILHOSA DA SERRA



AS GRAVURAS RUPESTRES DA PAMPILHOSA DA SERRA - UM VALIOSO PATRIMÓNIO CULTURAL

Há cerca de 14 anos foi realizado um levantamento arqueológico do concelho da Pampilhosa da Serra pelos arqueólogos Carlos Batata e Filomena Gaspar que terá sido um grande contributo para um melhor conhecimento da História local, mas não foi tão longe quanto eles, provavelmente, desejariam. A oportunidade de retomar o trabalho então iniciado, surgiu agora, já que o programa das Aldeias de Xisto, inclui uma Rota da Arte Rupestre e, de forma bem pensada, a Câmara Municipal decidiu aprofundar esse levantamento arqueológico.

Os mesmos arqueólogos têm estado a trabalhar no concelho e os dados recolhidos têm-se revelado surpreendentes e confirmam o povoamento do nosso concelho em épocas pré-históricas muito recuadas, no Neolítico e no Calcolítico (entre 5000 e 2000 anos A. C. na Península Ibérica). Os vestígios já investigados apontam para um povoamento relativamente denso. A população dedicava-se, com muita probabilidade, à pastorícia, à cultura dos cereais em sistema de queimada, fazendo um ligeiro trabalho da terra e à recolecção de frutos espontâneos e outros, como a castanha, a bolota, o medronho, etc. As provas deste modo de vida são a descoberta de inúmeros locais com arte rupestre gravada em painéis de xisto, numa área que vai dos cumes da serra do Açor, Picoto de Cebola – Meãs e serra do Chiqueiro, até ao rio Zêzere, e sepulturas desse tempo: as mamoas. Estas sepulturas são constituídas por um monte circular de pedras, quase sempre seixos de quartzo branco, abundante na nossa região, e que tinham no seu centro uma câmara funerária, em xisto, onde eram colocadas as cinzas do defunto. Já foram descobertas no nosso concelho, 120 (!) o que é uma concentração impressionante. Algumas têm um diâmetro de 6 ou 7 metros, o que demonstra a importância do morto que ocuparia uma posição social mais elevada, de chefia. A comunidade científica ficará admirada quando estes dados lhe forem comunicados, nas revistas da especialidade, por estes dois arqueólogos.

Está a confirmar-se a riqueza arqueológica do nosso concelho, relativa a estas épocas, mas também há testemunhos da época romana e medieval.

A ideia de que estas terras eram tão estéreis e inóspitas, que só teriam começado a ser povoadas na Idade Média com os forais da 1ª dinastia, está posta de parte. Nesses tempos do Neolítico, quando a agricultura e a pastorícia começavam, era mais fácil e atractivo trabalhar a terra menos fértil, inclusive a das montanhas, pois não havia ainda instrumentos de ferro para lavrar as terras pesadas e férteis dos vales. Os instrumentos de pedra polida, cobre, estanho e bronze adaptavam-se melhor a estes terrenos e as cabras e as ovelhas eram os animais explorados nesta civilização pastoril que aqui se instalou e prosperou.

Nesses tempos recuados, o comércio a longa e média distâncias já seria uma realidade, como o provam as mós manuais em granito aqui encontradas, provavelmente provenientes da Cova da Beira ou da Beira Baixa. O granito é uma rocha inexistente no nosso concelho. É também bastante provável que já estivesse a iniciar-se a exploração do estanho e do cobre tão abundantes na nossa região (Cabeço da Argemela e Panasqueira).

Ainda não foram encontrados vestígios visíveis de um povoado, talvez pelo facto de os materiais de construção serem perecíveis, ou porque algumas das actuais aldeias terão sido fundadas sobre esses antigos povoados, mas urge continuar a pesquisa, tal como será lógico agora, escavar algumas mamoas para aprofundar a investigação e inseri-las num circuito de turismo cultural de que a Rota da Arte Rupestre do projecto das Aldeias de Xisto é já um primeiro passo.

Tem sido gratificante para estes dois arqueólogos (Filomena Gaspar é natural deste concelho) o trabalho em curso, pois confirma a importância arqueológica da Pampilhosa, inserida numa área cultural mais vasta que abrangia os concelhos de Arganil, Góis, Fundão e outros. Arganil é o melhor exemplo de aproveitamento desta potencialidade turístico-cultural, pela abertura de um centro de interpretação de arte rupestre em Chãs d’Égua (Piódão) há poucos meses.

Não é só em Foz Côa que existe arte rupestre. As fotografias da autoria de Carlos Batata são a prova de que, embora não tão antiga, também aqui existe esse testemunho de “civilizações” pré-históricas antiquíssimas.

Casimiro Santos


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